Migrar do Simples Nacional para o Lucro Presumido pode ser uma das decisões tributárias mais importantes da vida da sua empresa. Em muitos casos, o Simples é visto como sinônimo de “imposto mais barato”, porém isso nem sempre é verdade. À medida que o negócio cresce, fatura mais e muda de faixa, a alíquota efetiva aumenta, e o regime que antes era vantajoso pode passar a consumir uma parte grande demais do seu faturamento.
Como contador, vejo todos os dias dois cenários bem distintos. De um lado, empresas que continuam no Simples por inércia e acabam pagando imposto demais sem perceber. De outro, empresas que migraram para o Lucro Presumido após uma análise técnica séria e passaram a economizar de 15% a 40% da carga tributária anual. A diferença entre esses dois grupos não é sorte: é planejamento tributário.
Por isso, este guia foi pensado para explicar de forma clara, direta e acessível quando vale a pena migrar, como comparar os dois regimes e quais sinais você precisa observar antes de tomar a decisão.

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ToggleComo funciona o Simples Nacional na prática
O Simples Nacional foi criado para simplificar a vida das micro e pequenas empresas. Ele reúne vários tributos em uma única guia mensal (DAS) e organiza as empresas em anexos, de acordo com o tipo de atividade. Além disso, o cálculo leva em conta o faturamento acumulado dos últimos 12 meses, o que define a faixa de tributação.
Na prática, isso significa que, quanto mais sua empresa fatura, maior será a alíquota efetiva. Assim, no início, quando o faturamento ainda é baixo, o Simples costuma ser muito vantajoso. Porém, conforme a empresa cresce e sobe de faixa, a tributação pode se aproximar — ou até superar — a de outros regimes mais avançados.
Outro ponto importante é que o Simples não permite o aproveitamento de créditos de PIS e COFINS. Isso prejudica empresas que compram de fornecedores no regime não cumulativo, pois, mesmo pagando mais imposto embutido nos preços, não conseguem recuperar esses valores. Por isso, para empresas que movimentam volumes maiores de compra e venda, esse pode ser um fator decisivo ao avaliar a migração.
Em resumo, o Simples é excelente para começar e para negócios menores, mas pode se tornar pesado quando a empresa atinge outro patamar de faturamento e margem.
O que é o Fator R e como ele influencia o imposto no Simples Nacional
O Fator R funciona como um divisor entre pagar pouco ou pagar muito imposto dentro do Simples Nacional, especialmente para empresas de serviços. Ele compara o total da folha de pagamento dos últimos 12 meses com o faturamento do mesmo período. Quando esse percentual ultrapassa 28%, o negócio entra automaticamente no Anexo III, que possui alíquotas bem menores. Porém, quando o índice fica abaixo dos 28%, a empresa permanece no Anexo V, onde a carga tributária costuma ser muito mais elevada.
Esse mecanismo afeta diretamente a competitividade porque altera a alíquota final de forma expressiva. Empresas com folha mais forte costumam pagar menos, enquanto negócios com estrutura enxuta enfrentam aumento de tributação conforme crescem. Por isso, acompanhar o Fator R mês a mês permite que o empresário entenda seu ponto de virada tributário, identifique riscos e planeje com antecedência uma possível mudança para o Lucro Presumido, caso o Simples deixe de ser vantajoso.
Como funciona o Lucro Presumido
O Lucro Presumido funciona como um regime tributário em que o próprio governo define, por lei, qual será a margem de lucro usada para calcular os impostos. Em vez de analisar o lucro real da empresa, a Receita Federal aplica um percentual fixo de presunção sobre o faturamento para determinar a base de IRPJ e CSLL. Para comércio, por exemplo, a margem costuma ser de 8%, enquanto para muitos serviços o índice chega a 32%.
Quando a empresa trabalha com uma margem real maior do que a margem presumida pelo governo, o Lucro Presumido geralmente oferece uma economia significativa. Além disso, como a apuração ocorre de forma trimestral, o empresário consegue organizar melhor o fluxo de caixa e planejar com mais previsibilidade os tributos de cada período — o que reduz surpresas e evita impactos inesperados no caixa.
Outro ponto importante aparece no cálculo do PIS e da COFINS, que seguem o modelo cumulativo dentro desse regime. Mesmo que essa metodologia pareça menos intuitiva a princípio, muitas empresas conseguem administrá-la com facilidade e ainda usufruem de uma carga tributária menor do que no Simples Nacional, especialmente quando o faturamento cresce ou quando a empresa possui boa lucratividade.
Por todas essas razões, o Lucro Presumido se torna uma escolha comum entre clínicas, consultorias, empresas de engenharia, escritórios e diversos prestadores de serviços que desejam combinar simplicidade operacional com maior eficiência tributária.
O ponto de virada: quando o Simples começa a pesar demais?
O Simples deixa de ser vantajoso quando a empresa chega a um ponto em que paga muito e recebe pouco em troca. Em termos práticos, isso acontece, por exemplo, quando:
- a empresa passa para faixas altas de faturamento;
- o negócio atua em CNAEs enquadrados no Anexo V, que tem alíquota maior;
- a folha de pagamento é baixa, e o Fator R não ajuda a reduzir o anexo;
- a margem de lucro é alta, mas não há aproveitamento de créditos;
- a alíquota efetiva passa de 13% ou 14% sobre o faturamento.
Nesse ponto, o Simples pode começar a “comer” uma parte significativa da receita bruta, reduzindo o lucro de forma silenciosa. Já o Lucro Presumido, por trabalhar com percentuais fixos e sem progressividade de faixas, tende a ser mais estável, especialmente quando o faturamento cresce de forma consistente.
Por isso, o grande segredo não é “gostar mais de um regime ou de outro”, e sim medir com números quando a curva de custo do Simples cruza a linha de economia do Lucro Presumido.
Comparando Simples x Lucro Presumido com exemplos reais
Para entender melhor, vamos olhar alguns cenários típicos.
Cenário 1 – Serviços no Anexo V faturando R$ 50.000/mês
Uma empresa de serviços enquadrada no Anexo V do Simples pode ter uma alíquota efetiva entre 17% e 19% sobre o faturamento, dependendo da faixa. Já no Lucro Presumido, essa mesma empresa pode atingir uma carga em torno de 10% a 12%, somando IRPJ, CSLL, PIS e COFINS.
Em um ano, isso pode significar economia de dezenas de milhares de reais, apenas pela mudança de regime. Além disso, com mais caixa disponível, a empresa consegue investir em equipe, tecnologia e marketing com mais tranquilidade.
Cenário 2 – Comércio faturando R$ 150.000/mês
No Simples, um comércio com esse nível de faturamento pode pagar algo entre 8% e 11%, dependendo da faixa. No Lucro Presumido, em muitos casos, a carga gira em torno de 4,7% a 6%.
Isso torna o Presumido extremamente atraente para comércios estruturados, especialmente aqueles com bom giro de estoque e margens estáveis.
Cenário 3 – Serviços com folha alta (Fator R aplicado)
Já em serviços com folha de pagamento elevada, o cenário é outro. Quando o Fator R reduz o enquadramento para o Anexo III, as alíquotas do Simples caem de forma considerável. Nesses casos, muitas vezes o Simples continua mais barato que o Presumido.
Por isso, não existe “regra mágica”. O que existe é análise caso a caso, comparando números concretos.
Sinais de que você deve estudar a migração imediatamente
Alguns sinais funcionam como “alertas amarelos” de que é hora de olhar para o Lucro Presumido com atenção. Entre eles, podemos destacar:
- a guia do Simples está pesando mais do que o esperado no caixa;
- a empresa cresceu, mas a rentabilidade não acompanha;
- o negócio está preso no Anexo V sem possibilidade de enquadramento no Anexo III;
- o faturamento aumenta mês a mês, mas o lucro parece estagnado;
- você percebe que a concorrência, em outros regimes, consegue praticar preços melhores.
Quando esses fatores aparecem juntos, continuar no Simples por comodidade pode gerar prejuízos silenciosos. Nessa fase, uma simulação tributária completa deixa de ser apenas recomendável e passa a ser urgente.
Quando NÃO é hora de sair do Simples Nacional
Por outro lado, existem situações em que a migração não é indicada. Por exemplo:
- empresas com folha de pagamento alta, que se beneficiam do Fator R;
- negócios que ainda estão em fase inicial, com margem instável;
- empresas com gestão financeira ainda desorganizada;
- empreendedores que não têm estrutura mínima para lidar com obrigações mais detalhadas.
Em todos esses casos, o Simples continua cumprindo bem seu papel de ser um regime prático, previsível e adequado a uma fase mais enxuta do negócio. Migrar antes da hora, sem planejamento, pode trazer mais burocracia sem trazer economia real.
Erros comuns que fazem empresas pagarem mais imposto na migração
Muitas empresas até percebem que o Simples está caro, mas cometem erros graves na hora de migrar. Entre os mais frequentes, estão:
- comparar apenas a alíquota nominal, sem considerar base de cálculo e presunções;
- ignorar o histórico de 12 meses de faturamento antes da decisão;
- não revisar o CNAE e o enquadramento correto das atividades;
- esquecer de avaliar o impacto no pró-labore e nas contribuições previdenciárias;
- desconsiderar o efeito do PIS/COFINS no Presumido;
- tomar a decisão por “achismo” ou por opinião de terceiros, sem cálculos.
Esses erros, somados, podem transformar uma migração que deveria gerar economia em uma mudança que aumenta a carga tributária. Por isso, qualquer decisão deve sempre estar baseada em números, projeções e acompanhamento contábil especializado.
Checklist final: devo migrar agora?
Para facilitar, use este checklist como ponto de partida. Se você responder “sim” para quatro ou mais perguntas, é muito provável que a análise do Lucro Presumido seja urgente:
- A guia do Simples está pesando mais de 12% ou 13% do faturamento?
- Sua folha de pagamento é pequena em relação ao faturamento?
- Sua empresa mantém boa margem de lucro mesmo com custos atuais?
- O seu CNAE está preso no Anexo V?
- O faturamento cresce mês a mês e você sente que o imposto corrói essa evolução?
- Você precisa reduzir preços para competir, mas sente que o Simples limita essa estratégia?
Se a maioria das respostas for positiva, não significa que você deve migrar automaticamente, mas indica que a simulação entre regimes precisa ser feita o quanto antes.
Conclusão: a migração certa gera economia — a precipitada custa caro
Migrar do Simples Nacional para o Lucro Presumido pode ser uma excelente estratégia para reduzir impostos, aumentar a margem de lucro e fortalecer o caixa da empresa. No entanto, essa decisão nunca deve ser tomada por impulso. Ela precisa ser baseada em cálculos, comparação de cenários e análise da realidade específica do seu negócio.
Quando feita na hora certa, a migração traz alívio financeiro e abre espaço para novos investimentos. Porém, quando ocorre sem estudo, pode elevar a carga tributária e comprometer o planejamento. Por isso, o passo mais seguro é sempre contar com uma contabilidade consultiva, que ajude a interpretar números, projetar cenários e apontar o momento ideal.
Se você quer descobrir, com clareza e segurança, se o Lucro Presumido pode reduzir seus impostos já nos próximos meses, a SABER Contábil está pronta para ajudar. Nossa equipe realiza simulações completas, compara Simples x Presumido de forma técnica e mostra, em números, qual é o regime mais vantajoso para a sua realidade.
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